16/05/2024

Por se acreditar que as circunstâncias econômicas geradas pelo mundo digital impuseram ao jornalismo um dificílimo desafio de sobrevivência; por se acreditar que sociedades democráticas não se sustentam sem uma imprensa independente; por se acreditar que o jornalismo serve ao interesse público, não precisando se justificar como mercadoria; por essas razões, cria-se aqui o Instituto Artigo 220.

O Instituto Artigo 220 é uma Associação Civil de direito privado e sem fins lucrativos. Tem como missão apoiar o jornalismo rigoroso, crítico e apartidário, preferencialmente investigativo e de longo formato, exercido segundo as melhores práticas da profissão. Seus principais ativos são um fundo patrimonial e a totalidade das ações da revista piauí, veículo por meio do qual se manifesta o perfil do jornalismo que o Instituto visa estimular.

A revista piauí deve ser radicalmente transparente em relação a si mesma. Significa que terá o dever de informar os leitores sobre a origem dos recursos que a sustentam e sobre sua estrutura de comando.

Diferentemente do Instituto, a piauí é uma organização comercial. Tem a obrigação de zelar por suas contas e alocar seus recursos de forma responsável. A publicação operará com rendimentos oriundos do fundo patrimonial do Instituto Artigo 220, obrigando-se, porém, a buscar fontes de receita adicionais, sejam elas de tipo tradicional, como publicidade, assinaturas e eventos, sejam de outra natureza, como apoios de pessoas físicas ou jurídicas.

Amparada por esse novo modelo que lhe permite atuar sem constrangimentos financeiros de curto prazo, a piauí terá condições funcionais de testar estratégias editoriais que respondam às questões de fundo do jornalismo no século XXI. Tais questões incluem a crise do modelo de negócios da atividade. Se um dos desafios correntes do jornalismo diz respeito à sua autossuficiência, então explorar novas fontes de recursos é tarefa a que a publicação não pode se furtar. Em outros termos, um de seus deveres será propor formas inovadoras de se remunerar, tendo sempre como pressuposto e norte o compromisso com o jornalismo independente.

A revista piauí deve buscar excelência na apuração – primeiro fundamento da concepção de jornalismo defendida aqui – e invenção na forma. Deve ser um laboratório de experimentação jornalística, não tendo razão para seguir existindo se deixar de cumprir tal papel. Se vier a ser este o caso, caberá ao Instituto dar melhor destino aos recursos de seu fundo patrimonial de modo a seguir fiel a sua missão.

O jornalismo, tal como o entendemos, deve fidelidade aos fatos, não a projetos políticos. É um instrumento que deve estar a serviço do fortalecimento da esfera pública, nunca de governos, partidos ou grupos de poder. Isso não significa que a imprensa possa ser indiferente ou reivindicar para si uma neutralidade fictícia, um alheamento diante das questões mais abrangentes e urgentes do mundo contemporâneo. A defesa da liberdade de expressão, o respeito intransigente às minorias, o repúdio à intolerância e ao fanatismo, a aposta na democracia e a preocupação com a saúde ambiental do planeta – pela qual o Brasil tem grande parcela de responsabilidade – são valores que fazem parte da história da piauí e passam a ser encampados como um patrimônio imaterial pelo Instituto Artigo 220.